Protocolo LAC: Bateria de testes para avaliar a capacidade do sistema locomotor
- sjumptest
- 8 de fev.
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Atualizado: 17 de fev.
Autor: Prof. Dr. Leszek Antoni Szmuchrowski
1. INTRODUÇÃO
A prescrição individualizada de cargas de treinamento exige a realização de avaliações prévias ao planejamento (SZMUCHROWSKI e COUTO, 2013). Em esportes coletivos, onde os investimentos são bilionários, a aplicação de testes físicos tornou-se essencial para monitorar os efeitos do treinamento, avaliar e selecionar atletas, além de prevenir lesões.
A capacidade de executar saltos, Sprint e Sprint repetidos é determinante para o desempenho na maioria dos esportes coletivos. No basquete, por exemplo, a habilidade de realizar Sprint repetidos com breves intervalos de descanso é crucial, sendo comum a aplicação de testes que avaliam essa capacidade, inclusive com mudanças de direção. Além disso, os atletas frequentemente precisam saltar para executar arremessos e bloqueios (BRINI et al., 2021). No voleibol, a capacidade de realizar saltos e acelerações rápidas também é essencial, dada a necessidade de mudanças de direção durante os ralis (PLESA et al., 2021).
O futebol é uma modalidade coletiva complexa, cujo desempenho depende de fatores técnicos, táticos, físicos e psicológicos. Jogadores de elite realizam entre 150 e 250 ações intensas por partida (BANGSBO, 2007), destacando a importância do metabolismo anaeróbio. A capacidade anaeróbia refere-se à habilidade de regenerar ATP por meio de fontes não mitocondriais, sendo fundamental para sustentar esforços curtos e intensos, como saltos, chutes e sprinte (ARAÚJO JÚNIOR et al., 2012; REDKVA et al., 2018). Estudos mostram que sprinte representam de 8 a 12% da distância total percorrida durante os jogos (RAMPININI et al., 2007), sendo que as ações ofensivas decisivas ocorrem predominantemente em Sprint em linha reta (FAUDE et al., 2012).
Diante dessa realidade, torna-se fundamental a aplicação de testes para avaliar a capacidade anaeróbica em esportes coletivos como futebol, basquetebol, voleibol e handebol. Vários protocolos foram desenvolvidos para mensurar a capacidade de Sprint repetidos em atletas profissionais e amadores, independentemente do sexo (CASTAGNA et al., 2018; FERNANDES-DA-SILVA et al., 2021; GABBET, 2010), e muitos testes são adaptados às especificidades de cada modalidade esportiva.
Um dos testes mais amplamente utilizados na literatura é o Running Anaerobic Sprint Test (RAST), desenvolvido pela Universidade de Wolverhampton, no Reino Unido, para avaliar a potência anaeróbia dos atletas. O RAST mensura diferentes níveis de potência (máxima e média), além do índice de fadiga (ARAÚJO JÚNIOR et al., 2012). Durante o teste, o atleta realiza seis sprinte máximos de 35 metros, com intervalos de 10 segundos entre eles. A capacidade de sprinte repetidos é definida como a habilidade de produzir sucessivos esforços máximos ou quase máximos com intervalos curtos de recuperação incompleta (GIRARD et al., 2011).
Embora amplamente utilizado, o RAST apresenta limitações, como a ausência de um teste máximo prévio à corrida, essencial para uma avaliação mais precisa do índice de fadiga em atletas que realizam Sprint, consecutivos.
Nesse contexto, o Laboratório de Análise de Cargas (LAC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu um protocolo de avaliação anaeróbica mais abrangente. O protocolo é composto por três testes: (1) teste de salto vertical, (2) teste máximo de sprint de 35 metros (com parciais de 10 m e 25 m) e (3) teste de sprinte repetidos (seis sprinte de 35 metros, com intervalos de 15 segundos). Cada teste é realizado após um intervalo de recuperação quase completo de, no mínimo, 30 minutos. A sequência respeita a ativação máxima dos três principais subsistemas responsáveis pela motricidade dos atletas: locomotor, energético e informático.
Portanto, este estudo pretende apresentar um protocolo de avaliação periódica da capacidade anaeróbica em atletas de modalidades como futebol, basquetebol, handebol, voleibol e tênis, visando otimizar o monitoramento do desempenho e aprimorar os processos de treinamento esportivo.
2. MÉTODOS
2.1 Participantes
Participaram deste estudo 20 atletas de futebol da categoria sub-20 de um time que
disputa a 1ª divisão do campeonato mineiro masculino de futebol. Dentre os atletas, dois
eram goleiros, quatro laterais, três zagueiros, quatro volantes, dois meias e cinco atacantes.
A coleta e publicação de dados foi autorizada pela direção do clube .
2.2 Instrumento
Para aferição da velocidade de sprint foram utilizados sensores da marca MultiSprint,
da empresa Hidrofit, os quais possuem precisão de milésimos de segundos. Foram
empregadas três barreiras fotoelétricas e o software MultiSprint. Para a aferição do salto com
contramovimento (“counter movement jump”- CMJ) foi utilizada a plataforma de contato
“JumpTest”, da marca Hidrofit.
2.3 Protocolo
Inicialmente foi realizado um aquecimento padrão da equipe por todos os atletas. Este
trabalho foi conduzido pelos treinadores da equipe sendo composto de corrida leve,
alongamento dinâmico e educativos de corrida. A duração desta atividade foi de 20 (vinte)
minutos.
Modelo de protocolo para avaliação de capacidade de correr, com alta performance.
1. Salto vertical com contramovimento (CM.J)|
2. Corrida de Sprint 35 m (com parciais 10m + 25m), repetida duas vezes com intervalo aproximado de 30min.
3. Corrida de 35m (Corrida de Sprint) repetida de 6x, com largada na posição "alta - parada" e intervalo de 15s, entre as repetições. E executada 30 min. após ultimo teste (recuperação completa).

2.3.1 Salto com contramovimento
A seguir os atletas realizaram o teste de salto com contramovimento. Os atletas
realizaram três saltos. Em caso do terceiro salto obter índice maior que os dois primeiros, ao
atleta era proporcionada outra tentativa. O tempo de intervalo entre os saltos dependia da
necessidade de concentração do atleta e permitia a recuperação completa. Para análise de
dados foi utilizado o salto com valor mais alto. A realização do salto vertical como primeiro
exercício do protocolo proposto mobiliza o sistema neural, central e periférico para a
realização do esforço máximo que ocorrerá adiante (Sprint).
2.3.2 Teste de Velocidade 35 m
Inicialmente foram executadas duas tentativas para realização do teste de sprint de
35 m. Os indivíduos partiram da posição de pé, com dois apoios. O intervalo entre os testes
foi de aproximadamente 30 minutos, tempo necessário para recuperação quase completa do
atleta. As barreiras fotoelétricas foram posicionadas nas posições 0 m, 10 m e 35 m. Este
posicionamento permitiu a aferição da capacidade de aceleração de 10 m (expressada pelo
tempo gasto no percurso), da capacidade de corrida máxima de 25 m (expressada pelo tempo
gasto no percurso) alcançado após os 10 m de aceleração e tempo total da corrida de 35 m. Foi considerada, para a análise de dados, o resultado (menor tempo) da melhor corrida dentre as duas tentativas.
2.3.3 Teste de 6 x 35 m (RAST)
Por fim, foi realizado o teste de seis sprints de 35 m com intervalo de 15 segundos
entre as corridas. Não houve sinal sonoro para início dos sprints. Este protocolo foi realizado.
30 minutos após o esforço anterior. O avaliado deveria repetir na primeira corrida seu melhor
desempenho obtido no teste anterior.
2.4 Análise estatística
Os dados serão apresentados em média e desvio padrão.
O Índice de fadiga refere-se ao quociente da média da 2ª à 5ª corrida de 35 metros
com o desempenho na 1ª corrida. Este índice pode ser calculado, por meio da fórmula:

3. RESULTADOS
3.1 Teste de salto com contramovimento
Os laterais-direito e volantes apresentaram maiores médias de altura no salto com contramovimento (Tabela 1).

3.2 Teste de 10m, 25m e 35m
Na tabela 2 encontramos os resultados dos testes de 35 metros, com a divisão das parciais de 10 e 25 metros.

3.3 Sprints de 6x 35m
A tabela 3 apresenta os valores correspondentes aos 6 sprints de 35 metros com intervalos de 35 metros.

4. DISCUSSÃO
O protocolo apresentado, como demonstrado na seção Resultados, nos permite obter dados que caracterizam o potencial motor dos membros inferiores. Durante a uma sessão de teste de período não superior a 2 horas e 30 min é possível avaliar a aceleração de 10m, a velocidade máxima em 25m de corrida lançada, a velocidade de sprint de 35m, o salto com contramovimento e habilidade de sprints repetidos, e assim orientar sobre diferentes características de correr.
Uma vez que os atletas partiram da posição inicial parada, os primeiros 10 metros permitem verificar a aceleração dos mesmos de 0 a 10 metros. Os 25 metros subsequentes referem-se à média da velocidade máxima, uma vez que os indivíduos iniciaram esta seção após atingir sua velocidade máxima nos 10 metros iniciais.
Por sua vez, o resultado da distância total (os 35 metros) permite mensurar o tempo gasto para o atleta desenvolver sua velocidade máxima para percorrer tal distância. Por fim, a habilidade de sprints repetidos permite verificar a capacidade do atleta executar estímulos máximos, de maneira simultânea, assim como desempenharam em modalidades como futebol, basquetebol, voleibol, handebol, etc.
O futebol é um esporte coletivo intermitente de alta intensidade, com jogadores realizando de 150 a 250 ações de alta velocidade intercalados com atividades de menor intensidade ou descanso. Em uma partida de futebol competitiva média, o sprint é responsável por 1-11% do tempo total da partida (BANGSBO, 2007).
Sendo assim, a avaliação destes três tipo de corrida é muito importante para o desempenho no futebol. O sprint em linha reta permite ao jogador escapar de seu oponente e/ou alcançar uma zona livre para realizar o chute ao gol ou proporcionar um passe decisivo (FAUDE et al., 2012). A habilidade de realizar sprints repetidos é amplamente aceita como um componente crítico de esportes de alta intensidade intermitente, como é o caso do futebol (GABBET, 2010). Em análise de movimento realizada por Gabbet (2010) com atletas profissionais de futebol, foi verificado a quantidade máxima de seis sprints repetidos.
Estudos que analisaram a movimentação de jogadores durante partidas de futebol relatam que os sprints possuem cerca de 15 a 20 metros (não sendo computada a velocidade de aceleração). Quando somada a distância de aceleração, a distância total de sprint se aproxima daquela utilizada neste protocolo. Estes sprints eram intercalados por breves recuperações, de 20 a 60 segundos (FERNANDES-DA-SILVA et al., 2021).
Estes dados corroboram com nossa escolha em utilizar a distância de 35 metros e o intervalo de 15 segundos. Este intervalo, além de facilitar a execução do teste, aproxima-se do que ocorre em situações reais e não permite a recuperação total do sistema energético empregado de maneira predominante.
Para recuperação seriam necessários de 2 a 5 minutos (DANTAS, 2014). Neste protocolo o intervalo utilizado, de 15 segundos, é maior que o utilizado no RAST. Isso ocorre devido ao tempo necessário para o atleta retornar ao ponto e posição iniciais e realizar novo sprint, da posição totalmente parado, iniciando a corrida sem balanço. Quando analisado o viés metabólico, os dois tempos de intervalo não apresentam diferenças. Assim, o tempo de 15 segundos permite a produção dos resultados de maneira mais fidedigna.
Por fim, este protocolo nos permite calcular o índice de fadiga do atleta durante os sprints repetidos. Para que o teste seja considerado válido, a primeira corrida de 35 metros deve ter resultado semelhante à melhor corrida da fase anterior do protocolo. Aqui reside uma limitação do protocolo RAST, que não executa as corridas iniciais, impossibilitando tal análise. Para aferição da validade citada, como margem de erro, pode ser considerado uma variação de 5% do resultado, para mais ou para menos.
A partir de então, deve-se comparar a primeira corrida com a média das demais, para assim chegarmos ao percentual de fadiga do indivíduo. Assim, este protocolo permite verificar e monitorar o potencial motor máximo de atletas na capacidade de correr, por meio da realização de três testes consecutivos. Os resultados obtidos são determinantes para o desempenho na disputa competitiva da maioria das modalidades esportivas de nível profissional.
REFERÊNCIAS
1. Gabbett, Tim J. The Development of a Test of Repeated-Sprint Ability for Elite Women's Soccer Players. Journal of Strength and Conditioning Research: May 2010 - Volume 24 - Issue 5 - p 1191-1194 doi: 10.1519/JSC.0b013e3181d1568c.
2. Oliver Faude, Thorsten Koch & Tim Meyer (2012) Straight sprinting is the most frequent action in goal situations in professional football, Journal of Sports Sciences, 30:7, 625-631, DOI: 10.1080/02640414.2012.665940.
3. Fernandes-Da-Silva J, Castagna C, Teixeira AS, Carminatti LJ, Francini L, Póvoas SCA, Antonacci Guglielmo LG. Ecological and Construct Validity of a Repeated Sprint Test in Male Youth Soccer Players. J Strength Cond Res. 2021 Jul 1;35(7):2000-2009. doi: 10.1519/JSC.0000000000003047. PMID: 30694965.
4. Castagna, Carlo1,2; Lorenzo, Francini1; Krustrup, Peter3; Fernandes-da-Silva, Juliano4; Póvoas, Susana C.A.5; Bernardini, Andrea2; D'Ottavio, Stefano2. Reliability Characteristics and Applicability of a Repeated Sprint Ability Test in Young Male Soccer Players. Journal of Strength and Conditioning Research: June 2018 - Volume 32 - Issue 6 - p 1538-1544 doi: 10.1519/JSC.0000000000002031.
5. Girard O, Mendez-Villanueva A, Bishop D. Repeated-sprint ability—Part I: Factors contributing to fatigue. Sports Med 41: 673–694, 2011.
6. Pleša J, Kozinc Ž, Šarabon N. The Association Between Force-Velocity Relationship in Countermovement Jump and Sprint With Approach Jump, Linear Acceleration and Change of Direction Ability in Volleyball Players. Front Physiol. 2021 Nov 18;12:763711. doi: 10.3389/fphys.2021.763711. PMID: 34867467; PMCID: PMC8637321.
7. Brini S, Delextrat A, Bouassida A. Variation in Lower Limb Power and Three Point Shot Performance Following Repeated Sprints: One Vs. Five Changes of Direction in Male Basketball Players. J Hum Kinet. 2021 Jan 30;77:169-179. doi: 10.2478/hukin-2021-0019. PMID: 34168702; PMCID: PMC8008293.








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