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Sistema Interdependente de Treinamento Esportivo (SITE) e a Teoria dos Sistemas Complexos

  • sjumptest
  • 5 de fev
  • 5 min de leitura

Autor: Prof. Dr. Leszek Antoni Szmuchrowski


O Sistema Interdependente de Treinamento Esportivo (SITE) é um modelo baseado na Teoria Geral dos Sistemas (TGS), proposto por Ludwig von Bertalanffy, e aplicado ao desempenho esportivo. Ele considera o desempenho como o resultado da interação entre três componentes de física mecânica:


  • Força

  • Espaço

  • Tempo


No centro desse sistema está a “Biomáquina” atlética, representada pelo atleta, que atua como subsistema central responsável por gerar o resultado mecânico na saída do sistema. No entanto, a Teoria dos Sistemas Complexos amplia a compreensão desse modelo, fornecendo uma visão mais dinâmica sobre como os subsistemas interagem e como o desempenho esportivo emerge dessas interações.


1. Estrutura do modelo SITE


A Biomáquina é composta por três subsistemas interdependentes, que operam em conjunto para produzir trabalho mecânico e otimizar a rendimento esportiva. Esses subsistemas não funcionam isoladamente, mas sim como um sistema complexo, onde pequenas mudanças podem gerar grandes impactos no resultado.


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Fig. 01 Estrutura conceitual do sistema esportivo.


1.1 Subsistema locomotor


Responsável pela execução dos gestos esportivos, incluindo movimentos como corridas, saltos, arremessos e golpes entre outros. A biomecânica do movimento não é fixa, pois sofre ajustes contínuos conforme o atleta se adapta às exigências do treino e da competição.


1.2 Subsistema energético


Fornece a energia necessária para a realização das atividades físicas. A regulação do metabolismo energético não segue uma lógica linear; adapta-se de acordo com a demanda, resultando em respostas dinâmicas à carga de treinamento e competição.


1.3 Subsistema informático


Controla e coordena as ações motoras, processando informações e ajustando as respostas do corpo. Esse subsistema se comporta como um sistema neural complexo, onde padrões de controle motor emergem da interação entre sistema central o cérebro, a medula espinhal e sistema periférico neural e os músculos.


A interação entre esses três subsistemas gera um sistema dinâmico e adaptativo, característica fundamental dos sistemas complexos.


2. A Teoria dos sistemas complexos no modelo SITE


A Teoria dos Sistemas Complexos contribui para o SITE ao explicar como o desempenho esportivo emerge da interação dinâmica entre os subsistemas da Biomáquina. Diferente de um modelo linear de causa e efeito, essa teoria destaca características essenciais do SITE:


2.1 Não-linearidade no treinamento e desempenho


A resposta do atleta ao treinamento não segue uma progressão linear. Pequenos ajustes na carga podem resultar em grandes melhorias ou, ao contrário, levar à fadiga e lesões inesperadas.


Exemplo:


Dois atletas podem receber a mesma carga de treino, mas um deles pode apresentar melhora no desempenho enquanto o outro sofre uma queda. Isso acontece porque o corpo responde de maneira complexa e individualizada, dependendo das interações internas entre os subsistemas.

2.2 Emergência e auto-organização


O desempenho esportivo não deve ser simplesmente planejado e executado de maneira rígida; ele emerge das interações dinâmicas entre os subsistemas do atleta.


Exemplo:


Em esportes como o futebol, judô ou o tênis, os movimentos do atleta não são pré-programados, mas se ajustam constantemente às ações do adversário e às condições do jogo. Isso ocorre devido à auto-organização do sistema motor, que aprende e se adapta com base na experiência.

2.3 Variabilidade como sinal de adaptação


Em um sistema complexo, a variabilidade do desempenho não significa problema, mas sim adaptação. Pequenas variações na execução dos movimentos indicam um sistema flexível e resiliente, capaz de se ajustar às mudanças do ambiente de treinamento e competição.


Exemplo:


No “sprinttest”, se um atleta apresenta tempos de deslocamento ligeiramente diferentes entre repetições, isso pode indicar um sistema motor adaptável. Se os tempos forem sempre idênticos, pode significar que o atleta está treinado com intensidade sub eficiente para gerar adaptações e acaba ser menos preparado para mudanças inesperadas durante as competições.

2.4 Controle distribuído e inteligência artificial


Diferente de sistemas tradicionais onde um treinador define toda a carga de treino de forma rígida, um sistema baseado na teoria dos sistemas complexos permita, que treinador age de acordo com dados e intuição, apoiando decisões em inteligência artificial para detectar padrões emergentes e ajustar o treino dinamicamente.


Exemplo:


O sistema “jumptest” pode prever padrões de fadiga e ajustar a intensidade da carga antes que o atleta perceba sinais de overtraining.

Algoritmos podem identificar padrões biomecânicos e sugerir mudanças sutis na técnica para otimizar a eficiência do movimento.

3. Adaptações da Biomáquina e carga de treinamento


A evolução das capacidades da Biomáquina ocorre por meio de adaptações provocadas por estímulos de carga. No entanto, devido à complexidade do organismo humano, essas adaptações não são previsíveis de forma linear e demandam ajustes contínuos.

A carga de treinamento é composta por:


1. Meios de Treinamento: Exercícios mais Métodos de treinamento (Contínuos e Fracionados) para desenvolver cada subsistema.


2. Parâmetros de Carga: Variáveis que determinam a Magnitude, Estrutura e Dinâmica. Responsáveis pela organização dos estímulos.


A inteligência artificial pode ajudar a otimizar esses componentes, ajustando os estímulos de maneira personalizada para cada atleta.


4. Sistema de controle do treinamento


Para garantir a eficiência do treinamento, o SITE adota um sistema de controle distribuído, inspirado na complexidade dos sistemas biológicos. Esse controle ocorre em três níveis:


4.1 Controle direto


Monitoramento imediato das respostas do atleta durante o treinamento, analisando dados como:


  • Frequência cardíaca

  • Fadiga muscular

  • Parâmetros biomecânicos (ritmo (frequência), potência, velocidade, força,)


4.2 Controle operacional


Avaliação da evolução do rendimento, considerando:


  • Testes físicos e fisiológicos

  • Comparação de métricas ao longo do tempo

  • Sugestões para recuperação ativa e regeneração

  • Correção dos parâmetros de carga, com apoio em inteligência artificial


4.3 Controle periódico


Uso de algoritmos preditivos para evitar riscos de lesões e otimizar o planejamento do treino.


  • Identificação de padrões de overtraining

  • Ajustes necessários na carga de treino em relação as metas (macro)


O Sistema Interdependente de Treinamento Esportivo (SITE) vai além da estrutura tradicional da Teoria Geral dos Sistemas, incorporando princípios da Teoria dos Sistemas Complexos para ajustar a dinâmica real do rendimento esportivo.


Dessa forma, o SITE não trata apenas de variáveis estáticas, mas considera que o desempenho esportivo emerge da interação contínua entre os subsistemas do atleta, em um processo dinâmico, adaptativo e não-linear.


A aplicação de inteligência artificial e análise preditiva potencializa esse modelo, permitindo um treinamento mais eficiente, personalizado e cientificamente embasado. Com essa abordagem, o modelo SITE se torna uma ferramenta poderosa para a otimização dos resultados esportivos, preparando atletas para os desafios imprevisíveis das competições modernas.


Literatura:

• BERTALANFFY, L. von. General System Theory: Foundations, Development, Applications. New York: George Braziller, 1968.

• LASZLO, E. Introduction to Systems Philosophy: Toward a New Paradigm of Contemporary Thought. New York: Gordon and Breach, 1972.

• DAVIDS, K.; BUTTON, C.; BENNETT, S. Dynamics of Skill Acquisition: A Constraints-Led Approach. Human Kinetics, 2008.

• SEIFERT, L.; ORIGER, T.; DAVIDS, K. Complex Systems in Sport: Linking Theory and Practice. Routledge, 2023.

• WINTER, D. Biomechanics and Motor Control of Human Movement. Wiley, 2009.

 
 
 

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